Uma das questões que abordei em meu livro “Em Busca do Ritmo Perfeito” é o quão determinante pode se tornar a escolha que fizemos em relação às pessoas que estarão ao nosso lado no dia a dia. Muito além do âmbito pessoal, elas farão a diferença- no bom ou mau sentido – também na sua carreira e até mesmo na sua performance esportiva.
Temos o péssimo hábito de misturar as coisas e de sempre nos colocarmos em situações de conforto. É inerente ao ser humano ter por perto apenas situações e pessoas agradáveis, que reforcem nossas convicções, concordem com nossas teimosias, fortaleçam a tranquilidade que tanto buscamos na rotina. Se parece que acabei de descrever a sua vida, é hora de acender o sinal de alerta. Porque, apesar de ser importante em diversos momentos ter o suporte de quem nos entende e respeita, é ainda mais fundamental compartilhar situações com quem vai nos arrancar da zona de conforto. É aquele treinador que irá até o seu limite, com planilhas que fazem uma lágrima escorrer secretamente. É o cara mais jovem que corre ao meu lado, me forçando a sempre dar um pouco mais de mim para me manter ao lado dele. É também, o profissional que, com experiência, conhecimento e bom senso, freia algumas “loucuras” que nós, corredores, estamos acostumados a querer fazer.
Escolher para estar ao seu lado pessoas que te motivem a melhorar, mesmo que a situação pareça desconfortável, pode se tornar o fator determinante na sua evolução. Basta olhar para trás: habitualmente você conseguiu melhores resultados no trabalho quando as metas pareciam inalcançáveis ou teve no seu encalço chefes ou clientes com alto nível de exigência. O mesmo vale para a corrida: ser o elo mais forte do grupo pode acabar te levando para a famigerada zona de conforto. E lá, apesar de aconchegante, é o lugar mais apropriado para quem, hora ou outra, acaba desistindo, cansando, deixando os desafios para trás.
Olhe para os seus treinos, suas metas e sua rotina: quem está ao seu lado te motiva ou desestimula? Concorda sempre com você ou vive lançando o aparentemente inconveniente e desconfortável “por que não?”. Essas pessoas não precisam ser as que estão sempre na sua casa, amigos íntimos ou que tenham diversas coisas em comum com você. Precisam sim, ser dedicadas o suficiente para que, juntos, vocês possam ampliar os resultados.
Perfis ecléticos, diferentes níveis de preparo, corredores com objetivos discordantes também podem se tornar ótimos companheiros de treino. Eles vão te levar ao limite quase sempre. Mas afinal, não é isso o que buscamos no caminho para a alta performance? Por: Roberto Vilela - Colunista Revista Corre Brasil