Bibliotecária de Itapema (SC) recuperou no esporte a alegria de viver após descobrir dois nódulos nos seios.
Hoje ela é uma das corredores mais presentes nos eventos da Corre Brasil, mas no ano de 2009, Lizete Machado, hoje com 50 anos, teve que começar a travar o que viria de ser a batalha mais difícil de sua vida: a contra o câncer de mama.
Falando ao telefone, a professora e bibliotecária percebeu por acaso que algo estava diferente em seu corpo. “Fui a uma médica que me orientou a fazer exames de mamografia, que acabou não aparecendo nada. Logo depois, fiz uma ultrassonografia, em que resultado foi ‘alta probabilidade de malignidade’ em nódulo da mama direita. Foi um choque pra mim”, conta.
De acordo com a Estimativa 2018 - Incidência de câncer no Brasil (INCA, 2017), o número de casos incidentes estimados de câncer de mama feminina no Brasil, em relação a 2019, foi de 59.700. Nas capitais, esse número corresponde a 19.920 casos novos a cada ano. A taxa bruta de incidência estimada é de 56,33 por 100 mil mulheres para todo o Brasil e 80,33 por 100 mil mulheres nas capitais.
Lizete, que não costumava praticar atividades físicas regularmente frequentava eventualmente sua academia sem vontade, só se deu conta que iria entrar nesse tipo de estatística quando passou a realizar os procedimentos necessários para vencer a doença: “Fizemos cirurgia, quatro sessões de quimioterapia, 38 sessões de radioterapia”, relata.
A BATALHA CONTINUA
Após os intensos tratamentos, em 2014, quando Lizete estava prestes a receber alta de um dos remédios, recebeu nos resultados de novos exames a notícia de que estava com outro nódulo maligno, dessa vez localizado no seio esquerdo. “Foi um choque ainda maior e sofri muito mais. Não aceitava que estava passando por tudo aquilo novamente. Fiz mais doze sessões de ‘quimio’ e outras 38 de rádio”, conta Lizete, que não precisou retirar as mamas (mastectomia) já que descobriu relativamente cedo a doença.
Mesmo com todas as adversidades, a bibliotecária relata que nunca se deixou abater pela tristeza durante o processo de quimioterapia. “Meu oncologista disse ‘olha, é um tratamento difícil, talvez caia o seu cabelo.’ Para mim esse era o menor dos problemas. Respondi que isso não me abalava em nada. Se nos importarmos com as pequenas coisas, o sofrimento acaba sendo muito maior”.
O ESPORTE COMO PREVENÇÃO
Especialistas em oncologia estimam que com uma boa alimentação e atividade física é possível reduzir o risco de a mulher desenvolver câncer de mama. Por isso, é importante a mulher controlar seu peso, ter uma alimentação saudável e praticar exercícios pelo menos três vezes por semana.
“Eu iria empurrada pra academia, somente para valer o dinheiro gasto na mensalidade. Mas tudo mudou quando, em 2015, minha professora Jaqueline me fez ir aumentando a velocidade da esteira e me convidou a ir ao seu grupo de corrida. Pensei: ‘você tá louca, não consigo correr!’. Até que determinado momento, depois de relutar bastante, fui à Meia Maratona de São José”. Essa foi a primeira vez que Lizete Machado, depois de vencer dois câncer de mama, correu. Depois disso, ela nunca mais parou.
Desde abril de 2015, a moradora de Itapema participou de mais de oitenta corridas de rua, a maior parte delas organizada pela Corre Brasil. Lizete eliminou 22 quilos e hoje já consegue realizar provas de 20km de distância. “Por causa do incentivo da minha professora, fiz da corrida uma terapia após o tratamento de câncer. O que ajuda a me manter forte, saudável e com a autoestima lá em cima, é de fato correr”.
Após descobrir a paixão pelas corridas de rua, Lizete começou a dividir esse amor através das redes sociais com as pessoas que convivem ela. “Ao menos, três ou quatro pessoas começaram a correr também”. Quando faz grandes distâncias, chora e conversa consigo. “Eu resolvo meus problemas ali. A corrida vicia. Eu sou uma sobrevivente de câncer através da corrida. A corrida me salvou do fundo do poço depois de tratar dois câncer de mama. Nunca diga ‘eu não posso’. Diga ‘eu vou tentar!”, termina.
Comments